O grupo “Interpretar e Aprender” surgiu como ideia nos corredores da Universidade de São Paulo por três estudantes de História interessados em integrar diversão e aprendizagem. Apaixonados tanto por narrativas fantásticas quanto pelo ato de ensinar, estes amigos decidiram criar um grupo cujo intuito seria trabalhar, de forma prazerosa, os conteúdos escolares - e não haveria melhor maneira de fazê-lo do que utilizando o RPG, ou Role Playing Game.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Um, dois, três universos... quem sabe quantos mais existem por ai?

Sempre fuçando a gente acha cada coisa pela internet. Essa semana eu descobri que a Editora Redbox está para lançar um RPG de mesa que se passa no velho oeste. Seu nome é Dust Devils. A hotpage do jogo é bacana e fala um pouco sobre a jogabilidade.


Mais do que isso, Dust Devils parece se abrir para outros cenários. No hotsite do jogo a editora afirma que junto com o kit original virão também outros três cenários para os jogadores se aventurarem: um no universo da espionagem (ao estilo 007), outro no Japão feudal e, por fim, nas ruas corrompidas das metrópoles do século XXI (aos modos de Sin City).

[Se você gostaria de saber mais sobre os lançamentos de RPG, eu recomendo esse artigo aqui do pessoal do RPGVale.]

O mais legal a respeito desses RPGs é que seus próprios criadores perceberam que seu sistema poderia ser adaptado para muitos outros cenários e eles mesmos gostaram de se aventurar nas adaptações. O que para os jogadores é encorajador e também uma mostra a respeito de como adaptar o sistema para mundos que os interessem mais. Parabéns Redbox... foi uma jogada e tanto. Vamos testar agora e ver como nos sairemos andando por planícies vastas, enfrentando xerifes corruptos, durões ou contratados. Clint Eastwood...



Nos vemos no inferno!


sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Mitologia Interplanetária - Parte VII

Antes de começar a ler este post leia os anteriores! A série começa aqui!

O segundo grupo do dia era o Mercúrio. Todos os dias, os alunos deviam escrever algo sobre as atividades para ser postado em um blog como diário de viagem: 


A única pessoa do nosso grupo que já tinha jogado foi o Alexandre. Essa mistura de mitologia e aventura foi DEMAIS! Achamos super legal e nos divertimos muito. Foi muito agradável, pois todos estavam cooperando.
Grupo Mercúrio – 6ºA
Carolina, Karin, Leon, Daniel, Alexandre e Aline

- Você foi escolhido. Escolhido para livrar o mundo da injustiça dos Deuses. O Olimpo deve cair! A era dos Deuses terminou! Morte aos deuses que utilizam a humanidade e outros seres como marionetes, protegendo-os apenas para serem adorados. A minha expulsão foi a gota d’água! O mundo será livre novamente! Libertem os titãs! Vão para Mercúrio e acabem com Hermes!

Mercúrio é um pequeno e quente planeta e logo vocês encontram a morada de Hermes. Caronte logo adentra o subsolo, pois na superfície todos morreriam, mesmo com o escudo de força mágico o calor era quase insuportável. Logo que chegaram ao pequeno planeta, o barqueiro os conduziu por uma cratera profunda, que logo se tornou uma rede de túneis complexa. Ele deixa vocês na porta de um labirinto e se despede com um sorriso irônico. – Boa sorte, vocês precisarão.


A partir dali, os aventureiros deviam encontrar seu próprio caminho pelo labirinto. Os seis aventureiros, não contavam com uma surpresa: como todo labirinto mitológico que se preze, uma besta mitológica guarda sua saída. A luta contra o minotauro foi feroz. Um dos personagens desmaiou durante a batalha e nem chegou a ver Mercúrio. Uma jogadora, em um golpe de sorte, aproximou-se e escalou as costas gigantes do minotauro, e por cima de sua cabeça, arrancou seus olhos de suas órbitas, dando fim à sua vida.



Ao chegar a Mercúrio, o mensageiro dos deuses não conseguia ao menos levantar. Aparentemente Plutão já havia o envenenado. Os heróis atacaram mesmo assim, e quase sem conseguir se defender, o deus chegou às suas sandálias aladas e fugiu, usando suas últimas forças para se teletransportar.


terça-feira, 16 de outubro de 2012

A narrativa como problema filosófico


Existem pessoas que estão testando os limites do que conhecemos como real. Na verdade eles estão por ai, caminhando pelas ruas, incógnitos. Tomando cafés, almoçando e jantando em bares, restaurantes e padarias assim como eu e você. São pessoas comuns que duvidam do que encontram e, assim, constroem caminhos que poderiam levar o mundo como o conhecemos a ser uma coisa completamente diversa do que ele é. Eles sempre caminharam entre nós, sonhando com um mundo... diferente.



São políticos, intelectuais, artistas, marceneiros, cineastas e mecânicos que estão constantemente pensando o mundo que os cerca e refletindo: mas o que diabos está acontecendo ao meu redor? Por que é tão difícil separar o que é do mundo natural e o que é uma construção do homem? Mais do que isso, será que essa separação é tão clara e importante? 

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A fotografia, desde o seu advento, é entendida como a reprodução do real em um suporte. Quando vemos uma fotografia no jornal diário que chega às nossas casas, ou, nesses tempos de internet, quando nos conectamos à rede e nos deparamos, nos infinitos portais de informação que divulgam os acontecimentos mundiais em tempo "real", com fotografias do mais recente dilúvio, explosão ou carnificina: quase que instantaneamente pensamos que estamos diante de um fato, não de uma imagem que foi pensada, construída e recortada de um panorama.



Essa imagem foi retirada do portal da revista Época no dia vinte de agosto desse ano. A imagem estava conjugada a notícia: "Embaixada do Brasil em Damasco é fechada por questões de segurança". Perceba como a imagem insinua um dado. Associada à chamada da noticia ela dá a entender que a embaixada brasileira foi atacada. Isso em uma leitura superficial e absolutamente de impacto. Espera-se então que a leitura da notícia separe a imagem de uma cidade "em chamas" da razão real do fechamento da embaixada, ou, ao menos, espera-se que a situação seja propriamente explicada. Porém não é isso o que encontramos. A notícia, em tom de desespero, tende a dar uma situação muito problemática e aterradora.

Certamente que a situação era preocupante naquele momento em Damasco. No entanto os veículos de notícia parecem retratá-la de tal forma a continuamente manter os leitores em estado de vigília. Mesmo que a ação esteja acontecendo a meio mundo de distância. Isso é feito com os textos, as imagens associadas fazem questão de aterrorizar e indicar uma leitura do mundo que, por vezes, mal se relaciona ao contexto em que a imagem foi captada. A gestalt estuda a leitura das imagens a partir do primeiro contato entre sujeito e representação, essas fotografias associadas a textos midiáticos acabam por se relacionar conosco nesse nível, quase inconsciente, em que a razão - criadora de narrativas e leituras - não consegue - a menos que muito treinada e atenta - desassociar imagem e texto em suas entrelinhas.

Note a construção dessa representação de Damasco: uma fotografia panorâmica que dá conta da linha do horizonte da cidade. No centro da fotografia, onde se concentram os prédios, e a direita nada interrompe a rotina de uma manhã qualquer (o tipo de luminosidade me leva a inferir que esta foto foi registrada em uma manhã). Mas a esquerda e ao fundo surgem nuvens negras que avançam para a cidade, pacata e talvez alheia, aos acontecimentos terríveis. Essa imagem é uma visão aterradora de uma onda de ataques que segue em direção à população civil em suas casas e vidas.

Ela também poderia representar outras leituras. Mas ninguém se dará ao trabalho de inventá-la. Já que é importante manter o leitor diário do meu, seu, nosso jornal em vigília e assustado ao ponto de não poder distinguir uma leitura de um dado do real. O que a imagem é ou poderia ser só se torna relevante quando um repórter ou escritor resolver criar uma associação. Mas essa associação só chegará aos leitores se um editor resolver publicá-la. Então é a isso que reduzimos a realidade, uma escolha editorial?!

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A narrativa serve, em nossas vidas cotidianas, para relacionarmos eventos e tornar a compreensão de um mundo tão complexo e faltoso de sentido em uma instância habitável e minimamente palpável. Em certa medida é a criação de uma realidade. Ainda assim é importante termos em mãos o conceito de que toda narrativa é construída e deve-se ficar atento ao tipo de construção a que impera enquanto real.

Veja-se, por exemplo, essa imagem que coloca o famoso assassino Buba Fett diante de Lee Harvey Oswald [assassino do presidente norte-americano J. F. Kennedy] minutos antes de seu assassinato:



Essa fotografia é mesmo uma reprodução do mundo real? Mais do que isso: se invento um dado ele passa a existir? Mais ainda: se eu invento e sua repercussão começa a interferir na realidade de muitas pessoas, ele deixa de ser "imaginação"? O pessoal do blog E se Star Wars fosse real explora a capacidade que temos de criar realidades e mundos a partir do nosso. Se o universo de Star Wars existia, até há pouco, apenas como filmes e livros, o pessoal desse site começou a criar intersecções com a história desse mundo [político e econômico] em que habitamos. O real foi posto em suspensão? Não, ainda não chegamos a tal ponto. Como foi o famoso caso de Orson Welles lendo no rádio o texto de "A guerra dos mundos" e desavisados alguns habitantes da cidade entraram em pânico por medo dessa invasão eminente. Ainda assim é de se pensar como a imaginação, essa potência que habita a cada um de nós, consegue criar e fazer pequenas adições à realidade. Cada ser humano divide um mundo com seus co-espécimes e ao mesmo tempo vivemos todos em nossos mundinhos particulares e pessoais.

Valeria lembrar aqui Ortega y Gasset que nos diz que "O Homem não tem natureza, tem História", para pensarmos a narrativa e a construção do mundo?!