O grupo “Interpretar e Aprender” surgiu como ideia nos corredores da Universidade de São Paulo por três estudantes de História interessados em integrar diversão e aprendizagem. Apaixonados tanto por narrativas fantásticas quanto pelo ato de ensinar, estes amigos decidiram criar um grupo cujo intuito seria trabalhar, de forma prazerosa, os conteúdos escolares - e não haveria melhor maneira de fazê-lo do que utilizando o RPG, ou Role Playing Game.

domingo, 20 de setembro de 2015

Da República ao Império


No sábado (12/09) fechamos a aventura que contava a turbulenta passagem da república para o império da civilização romana. Essa foi a primeira vez que não realizamos uma one shot e os personagens ganharam XP entre uma sessão e outra. A atividade foi muito interessante, principalmente porque contamos com um novo professor-narrador conosco: Danilo Vieira. Ele contou um pouco como foi essa experiência, e esperamos que continue colaborando com suas reflexões, risadas, etc.



Roma Para Garotos

Estátua de Vercingentorix, Bugundia.
Depois de vencer Vercingentorix na Batalha de Aléssia, os campeões de Cesar atravessam o Rio Rubicão, para mais tarde ascenderem como patrícios de uma Roma em constante expansão. Porém, alguns dos guerreiros escolhem ficar contra o Cônsul e decidem enfrentam as consequências de viver como fugitivos nos arredores da capital da República.

Essa é a história que se passou antes da minha primeira sessão de RPG profissionalmente. Os guerreiros que lutaram ao lado de César contra o rei gaulês são estudantes entre 12-14 anos. Minha experiência começou discutindo com o Paulo e o Thiago maneiras de como continuar aventura a partir da cena descrita no início do post. Como seriam as aventuras dos guerreiros, que agora se tornaram “novos patrícios” ou opositores de Cesar. Eu sou professor de Física, e só conheço a história de Roma por lembranças embaçadas dos conceitos ensinados nos meus anos de educação básica, portanto no começo fiquei um pouco perdido e receoso, mas com o tempo fui me acostumando com a ideia toda.

Foi muito interessante participar de todo o processo de criação da aventura e perceber o quanto o Grupo Interpretar & Aprender lida de forma profissional com o RPG na educação. Me pareceu que o objetivo principal é criar a curiosidade nos alunos sobre os assuntos, e não tanto passar datas, nomes ou coisas do tipo. Eu gostaria muito que o grupo crescesse, e pudesse englobar outras pautas, como incorporar jogadoras estudantes e mestras no Grupo.

Confesso que não tenho muita experiência mestrando, e grande parte da minha vida rpgística foi como jogador, mas mestrar para as crianças me fez repensar diversas pontos sobre metodologias de ensino. Apesar de ter sido avisado que alguns alunos eram muito ativos, ou se dispersavam facilmente, me impressionou o quanto eles prestavam a atenção na aventura e se interessavam pelo que acontecia.
ROYER, L. Vercingentorix joga as armas aos pés de Julio Cesar. 1889

Durante a sessão, próximo do final da aventura, um momento me chamou bastante atenção. Eu estava narrando uma cena em que Marco Aurélio e Otávio iam conversar com os personagens dos alunos, e comecei falando que tinha dois homens que pareciam grandes nobres romanos. Um dos jogadores me interrompeu e falou “ah o outro cara que está acompanhando ele deve ser o Otaviano”, enquanto eu ainda estava apresentando o Marco Aurélio. O que só reforçou a ideia de que além de incrivelmente espertos, os alunos fazem relações que muitas vezes não prevemos. O RPG se mostrou uma ferramenta muito poderosa, tanto para usufruir da curiosidade dos os alunos, como uma forma de se aproximar dos mesmos, e conhecer as formas particulares com que eles trabalham o conteúdo que lhes é apresentado.

Todo esse processo me fez pensar como aplicar o RPG numa metodologia de ensino de Física. A Física possui obvias diferenças (e não tão obvias similaridades) com a História, e essas diferenças resvalam quando se pensa em um jogo aplicado ao ensino. Um dos grandes entraves ao ensinar física, é o esforço em não deixar o conteúdo muito matematizado, porém sem esquecer que a Matemática e a Física caminham juntas. Atualmente, a pressão do vestibular e um currículo inchado fazem com que grande parte do que é ensinado em Física se resuma a “fórmulas”. Mas acredito que o RPG possa ser usado para tirar essa rigidez do ensino de física, e deixar o aprendizado um pouco mais livre e imaginativo, características que às vezes não se encaixam quando pensamos o ensino de ciências naturais.



 Danilo Vieira é formado em Física pelo Instituto de Física de USP e RPGista desde 2001