O grupo “Interpretar e Aprender” surgiu como ideia nos corredores da Universidade de São Paulo por três estudantes de História interessados em integrar diversão e aprendizagem. Apaixonados tanto por narrativas fantásticas quanto pelo ato de ensinar, estes amigos decidiram criar um grupo cujo intuito seria trabalhar, de forma prazerosa, os conteúdos escolares - e não haveria melhor maneira de fazê-lo do que utilizando o RPG, ou Role Playing Game.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

RPG para surdos

Nós do I&A já trabalhamos com diversos tipo de aprendizes-jogadores. Diversas idades, meninos, meninas, alunos com dificuldade de atenção, alunos tímidos, etc. Porém, ainda não trabalhamos com alunos com dificuldades especiais como surdez, cegueira, ou com alguma síndrome. Se há cinco anos, quando começamos essa empreitada buscando uma educação de qualidade e pluralidade narrativa, já sentimos uma felicidade imensa e um orgulho tremendo, imagine o Arthur Barbosa quando narrou pela primeira vez para uma jogadora surda?


Aluno da UEMS, em Dourados, Arthur já jogava RPG em uma escola estadual para fomentar o prazer pela literatura. Decidiu, então propor uma atividade no contra-turno dos alunos surdos. Logo na primeira atividade, uma professora surda e outras duas jogadoras ouvintes participaram de sua aventura. No segundo encontro, três alunos surdos do ensino médio entraram no grupo.


Para incrementar a comunicação, o narrador levou imagens previamente preparadas, e contou com as jogadoras intérpretes para auxiliá-lo com a LIBRAS. Como então narrar algo que já estamos tão acostumados como um farfalhar de folhas, passos após uma esquina escura, ou o som de um dragão respirando?

De acordo com o Arthur, é necessário perceber o mundo com outros olhos e principalmente outros (ou nenhum) ouvidos: 


"Nós estamos imersos num mundo ouvinte e homogeneizador. Logo, tudo é feito para e por ouvintes, mas o surdo não é ouvinte. É uma segregação violenta. Ninguém sabe LIBRAS. Imagina como esse surdo se relaciona com o mundo? A criança surda tem festas de família, e aí ela observa que tem uma mulher que sempre está lá, frequenta a casa dela, mas ela não sabe quem é. Pode ser a tia, a prima, a avó. Por isso o incentivo à cultura surda, só um surdo compreenderá as necessidades do outro. Eles percebem o mundo de maneira diferente."



Para o pesquisador, os surdos devem tomar o RPG para si, pois só assim as aventuras serão produzidas a partir de sua perspectiva e experiência. 








"Nós, professores, somos a porta para o letramento. A Família também. Mas nós estudamos como fazer isso. O surdo tem a língua portuguesa como secundária e muitas vezes não é inserido no mundo da literatura simplesmente porque ninguém falou pra ele o que é isso. Busco, então, com o RPG, fomentar a inserção do surdo na cultura literária, que é um direito fundamental de todo ser humano."

Além desse projeto, o Arthur também trabalha com o RPG nas aulas de literatura.
O RPG tem como formato privilegiado a narrativa oral, mas precisamos sempre estar atento à narrativas diferentes e inclusivas.

Para saber mais, entre em contato com o Arthur: arthurthales@hotmail.com