O grupo “Interpretar e Aprender” surgiu como ideia nos corredores da Universidade de São Paulo por três estudantes de História interessados em integrar diversão e aprendizagem. Apaixonados tanto por narrativas fantásticas quanto pelo ato de ensinar, estes amigos decidiram criar um grupo cujo intuito seria trabalhar, de forma prazerosa, os conteúdos escolares - e não haveria melhor maneira de fazê-lo do que utilizando o RPG, ou Role Playing Game.
Na última semana, durante uma aventura de RPG em que eu estava jogando, aconteceu o seguinte: durante uma discussão entre personagens, o personagem de um jogador, um 'ranger' maligno, desferiu um tapa no rosto da minha personagem, uma bruxa, diante de todos os NPCs relevantes da vila nórdica em que viviam. Minha personagem não havia sido feita para o combate, diferentemente dele, mas não era nem um pouco inofensiva. Protegida e atormentada por uma divindade menor dos ventos, a bruxa exigiu que a mão que tocou seu rosto lhe fosse entregue. Considerando a situação - e a possível ajuda que o tal ranger poderia proporcionar ao grupo em uma complicada situação iminente -, o 'espírito dos ventos' apenas ameaçou o personagem que desferiu o tapa. Chateada, a bruxa foi se lamentar pelo ocorrido longe da vila. Aborrecido, o ranger foi tentar descobrir uma forma de se proteger da tal divindade menor.
Depois da cena, eu fiquei me perguntando o porquê de eu não ter me utilizado de alguma maldição, o porquê de eu não ter intimidado o agressor (a habilidade mais relevante da personagem!), o porquê de eu ter interpretado um entristecimento ao invés de dar vazão à fúria (defeito descrito na ficha da personagem!). Imediatamente me ocorreu: "será que é porque estava interpretando uma mulher?". Será que, se eu estivesse interpretando um herói, eu teria tido a mesma reação? Ou mesmo se eu estivesse interpretando um não-combatente, ou um pacifista homem, teria tido a mesma reação? Esta pergunta ficou me incomodando por um tempo, ao mesmo passo que outra foi surgindo: será que ele teria desferido um tapa, ao invés de outro tipo de golpe, por conta do gênero das personagens?
Uma das coisas mais legais do RPG é a possibilidade de interpretar personagens, mas também é um exercício interessante para que nos conheçamos melhor - só assim podemos nos corrigir, afinal. Às vezes, acabamos agindo de formas impensadas e não temos em mente as implicações infelizes de tais ideias e o RPG nos fornece a capacidade de colocar algumas destas ações em perspectiva.
Assim, pensando agora, eu não poderia ter agido como agi. Deste modo, deixei de reagir como uma bruxa poderosa e furibunda, como seria mais coerente com a personagem havia criado, para dar lugar a uma donzela indefesa, marca da representação degradante das mulheres nos universos fantásticos, ou, pior, uma mulher incapaz, quando ela foi pensada como uma mulher hiper-competente, respeitada e temida. Minha "tristeza" acabou destruindo todo o trabalho que tive na criação e elaboração de uma personagem mulher que não fosse meramente redutível a seu gênero - mesmo sendo uma bruxa.
O RPG permite uma recriação da história e, com isso, por que diabos utilizá-lo para reforçar estereótipos, arquétipos e injustiças quando podemos fazer do mundo (de todos eles!) um lugar melhor? Verossimilhança é sempre interessante, mas, já que é impossível fugir do anacronismo, por menor que ele seja, será que não é mais legal se utilizar do anacronismo justamente para dar espaço a um mundo menos equivocado do que o nosso onde possível?
Talvez, historicamente, fizesse mais sentido que, ali, desmascarada em seu poder, os nórdicos deixassem de temer aquela forma de bruxaria e, com isso, se abrisse mais espaço para outras tradições religiosas. Talvez. Mas será que o que importa, no caso, é sempre a história? Finalmente, sugiro a leitura da dissertação de Mestrado de Eliane Godinho, Role Playing Game - Uma representação de gênero, que suscita ótimas reflexões não só sobre o tema, mas sobre o percurso do RPG.
Como disse no post anterior, decidi fazer uma dinâmica extensa baseada no RPG com os alunos para que os conceitos fossem trabalhados, e principalmente para torná-los agentes criadores no processo educativo. Claro, um sistema completamente novo era necessário.
A dinâmica de turnos me pareceu bastante plausível. Cada turno seria uma espécie de desafio, ou uma escolha, que influenciaria nos turnos vindouros. O mais difícil foi bolar um nome; SimPolítica para o 8º e SimNegócios para o 9º.
No 8º, os alunos controlariam o poder executivo de uma cidade. Dividi cada sala em três grupos de dez alunos e cada grupo controlaria uma cidade diferente: uma pequena, uma média e uma grande. Como as cidades eram fictícias, pedi para compararem sempre à cidades conhecidas como São Paulo e Santos. Claro que os alunos não deveriam trabalhar com o grupo inteiro ao mesmo tempo. Separei-os em duplas dentro de seus grupos. Cada dupla controlaria uma das cinco secretarias (Educação, meio-ambiente, planejamento urbano, saúde e segurança pública), e uma dupla controlaria o gabinete do prefeito. Como uma ou outra secretaria poderia não estar relacionada ao problema vigente no turno, a cada turno uma delas seria inutilizada (à escolha dos próprios alunos), de modo que uma dupla sempre fosse o gabinete do prefeito.
Com a divisão entre secretarias, os alunos conseguem focar suas pesquisas e conseguem perceber na prática que o poder público está dividido em vários setores, em várias esferas, cada uma com suas responsabilidades e deveres. O gabinete do prefeito, por sua vez, tinha apenas a missão de auxiliar as outras secretarias durante as pesquisas e a criação de possíveis soluções para os desafios, e também distribuir a verba entre os vários projetos das secretarias. Essa verba não se tratava de valores, mas de porcentagem, trabalhando interdisciplinarmente com a matemática.
No 9º ano, os alunos controlariam o conselho diretivo de uma empresa. Deviam decidir sobre o futuro da empresa e tinham total liberdade de decisão (inclusive poderiam levá-la à falência). Os alunos se dividiram em grupos de cinco alunos.
Em ambos os casos, os projetos, ideias, soluções e escolhas deveriam pautar-se nos conceitos de sustentabilidade e responsabilidade social. A dinâmica desenrolou-se dessa maneira (lembrando que só tínhamos uma aula por semana):
1º - O turno iniciava-se em sala de aula: o desafio era proposto com uma pequena introdução do cenário pelo professor. (darei exemplos em outros posts). Nessa mesma aula, os alunos já reuniam-se para discutir quais ações deveriam ser tomadas durante a semana, e no caso do 8º ano, decidir qual secretaria ficaria de fora.
2º - Se preciso, mais uma aula para discussão com o professor e o resto do grupo. Um pré-relatório com a pesquisa do grupo era necessário.
3º - No final da semana, um relatório final justificando e explanando as escolhas do grupo deveria ser postado na plataforma que utilizamos no colégio.
4º - Na semana seguinte o professor comentava e passava o próximo desafio.
Para saber mais como foram as experiências, clique aqui e aqui.
Como os leitores mais assíduos do blog perceberam, ficamos um booom tempo longe. O Paulo já explicou de uma maneira bonita, mas a verdade é que trabalhávamos muito durante esse período.
Um dos meus novos desafios esse ano foi ministrar aulas de Educação Financeira. Após algumas pesquisas percebi que não poderia seguir os programas mais comuns. Em geral, a disciplina é ministrada para o ensino fundamental I, com alguns exemplos de programa para fundamental II e médio.
Grande parte dos programas tratam de economia doméstica e tentam convencer os alunos a guardar dinheiro. Geralmente com situações hipotéticas, as simulações nem sempre são próximas às vivenciadas pelas nossas crianças. A maioria ainda tenta desmistificar o dinheiro: ele serve para ser gasto! Apenas precisamos pensar melhor como gastá-lo. Esse objetivo é urgente no Brasil com o crescente poder de compra da população. Porém, com alunos de alta renda o método torna-se ineficaz e as situações hipotéticas muito longe de sua realidade.
Assim, a única opção era criar meus próprios objetivos, métodos e escolher os conteúdos que trabalharíamos com os 8ºs e 9ºs anos. Claro que minha formação em História não ajudaria a focar na parte matemática da coisa, não havia outra opção além de trilhar o caminho crítico e discutir alguns pontos sobre economia, e principalmente responsabilidade social e sustentabilidade.
Decidi, então, delimitar o foco dos estudos para o oitavo ano na realidade do país. Após um pouco de história sobre mercantilismo e capitalismo focamos nas obrigações das diversas instâncias de governo. Já havia me atentado à extrema dificuldade dos alunos de diferenciar os governos municipais, estaduais e federais. É muito fácil culpar a presidenta pelo transporte público de São Paulo quando na verdade o metrô é responsabilidade estadual e os ônibus cabem ao município. Descobrimos como o orçamento público é elaborado e aprendemos sobre os principais impostos pagos pela população.
No nono ano o espectro foi maior. Começamos com uma visita à BM&F/Bovespa e discutimos tópicos ligados à bolsa. A partir do ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial), da própria bolsa, partimos para discussões sobre sustentabilidade e responsabilidade social.
Em ambos os casos, o objetivo foi torná-los conscientes e críticos quanto às situações estudadas, assim como torná-los responsáveis pela manutenção do sistema ou sua mudança. Em ambos os casos decidi que o segundo semestre seria mais prático e dinâmico. Criei um simulador para cada série. Esse simulador seria bastante semelhante a um RPG convencional, com turnos, estímulos do professor e respostas dos alunos. É essa experiência, com seus altos e baixos, que gostaríamos de contar a vocês em posts vindouros. A experiência foi grande e ainda não terminou, mas já foi bem interessante.
"Sempre achei que o paraíso fosse uma espécie de livraria"
Jorge Luiz Borges
O literato João Guimarães Rosa costumava dizer que "o correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem"... Coragem. Pois perdemo-nos em nosso cotidiano e esquecemos quem somos. Esquecemos os quereres... os das histórias, aqueles das crianças e dos loucos.
Levou um tempo para entendermos como esse projeto funciona. E depois mais um tempo para entendermos como esse projeto atua. Depois ainda precisamos negociar com a vida. Agora, finalmente, chegamos em um ponto ótimo em que energias são gastas e produzidas e repostas. Mas a vida ainda exige-nos coragem.
Pois continuando o que estudamos, pensamos e propusemos em posts anteriores faço aqui um re-post do pessoal do Papo de homem. Abaixo está uma história sobre a primeira história em quadrinhos. E sobre o paraíso... Não dá para não se emocionar, é impossível não se apaixonar...
Preciso dizer que os quadrinhos, ultimamente andam me surpreendendo. São narrativas inovadoras muito ligadas em seu suporte, trabalhando-o como poucas outras mídias. Existem alguns web-comics na rede hoje em dia. O pessoal do Terapia, faz um dos melhores. E, deles, vem essa história abaixo.
Antes de Adão, Deus e o super-macaco, vale saber que os caras desenharam coisas como isso aqui, ó:
E agora... A primeira hq:
— Senhor?
— Pois não.
— Adão na linha nove.
— Pode passar.
— Só um minuto.
— Alô?
— Oi, Adão, tudo bom?
— Tudo, e o Senhor?
— Tudo em ordem. Diga.
— Eu liguei para conversar com o Senhor sobre meu novo projeto.
— Projeto?
— Sim. O senhor sabe que eu faço desenhos, certo?
— Desenhos?
— Isso. Na parede da minha caverna.
— Aqueles bonequinhos que você faz com carvão?
— Bem… Não são exatamente bonequinhos, mas tudo bem. Enfim, eu estava fazendo uns desenhos semana passada e tive uma ideia.
— Qual?
— Vou transformar aquilo em uma história. Ocupando a parede inteira da minha caverna.
— História?
— Isso. Com começo, meio e fim. E um personagem principal. Mas, para isso, eu preciso da ajuda do Senhor.
— Espere, eu ainda não entendi. Como um desenho vai contar uma história inteira?
— Não é um desenho. Serão vários. Um vai ser continuação do outro. Por exemplo, o primeiro desenho mostra meu personagem, não sei, indo até a caverna. O segundo desenho mostra ele entrando na caverna. E por aí vai…
— Ah, entendi.
— Bem, eu já tenho minha história toda planejada e comecei a desenhar. Mas não estava ficando bom. Alguma coisa estava faltando.
— E aí você ligou para Mim.
— Justamente. Eu preciso inventar a escrita.
— …
— Alô?
— Desculpe. Eu engasguei com o café. Você quer inventar o quê?
— A escrita. Os desenhos estão ficando ótimos… A Eva, no começo, não gostou de ver a parede da caverna toda desenhada, mas agora mudou de ideia. Ela tem até dado palpites sobre a história, sabe?
— Que bom.
— Mas sem a escrita, eu não estou conseguindo fazer. Estou empacado.
— Bem…
— Porque qualquer um consegue desenhar uma pessoa triste. Mas se puder escrever, eu consigo mostrar porque aquela pessoa está triste. Ou, melhor ainda, porque aquela pessoa está triste naquele momento. Vai ficar muito mais rico.
— Você tem pensado tudo nisso sozinho?
— Sim. Por quê?
— Nada. Bem, parece que está ficando muito bom. Mas eu não posso autorizar a escrita agora.
— Mas é só um alfabeto. Quantas letras o Senhor imagina que um alfabeto teria? Umas oito? Dez?
— Não, muito mais. A última vez que dei uma olhada nisso, o projeto já tinha mais de vinte letras. E ainda não está pronto.
— Eu me viro com essas vinte. Que tal?
— Não, Adão, nem pensar.
— É que sem a escrita, minha história vai ficar fraca. Igual a dos macacos.
— Os macacos fizeram uma história com desenhos também?
— Sim. Eles ficaram sabendo que eu estava fazendo uma história, correram e inventaram a história deles. Mas não ficou boa, não.
— Por quê?
— Bom, eles criaram um personagem… É um macaco que consegue fazer um monte de coisas diferentes. Ele voa e é mais forte que os outros macacos. É estranho, ele tem uma folha de palmeira nas costas. Nenhum macaco usa uma folha de palmeira nas costas.
— Nas costas?
— Sim. Fica presa no pescoço. Eles dizem que é o Super Macaco, encarregado de proteger o Paraíso.
— Mas defender o Paraíso de quê?
— De mim.
— Como assim?
— O tal do Super Macaco é o herói, e eu sempre sou o vilão. As histórias que eu vi sempre começam comigo tentando roubar alguma coisa do Paraíso. Aí o macaco com a folha de palmeira nas costas aparece e eu apanho.
— Não parece ser muito interessante.
— Concordo. Acho que é por isso que eles ficam tentando inventar coisas novas. Para o Senhor ter uma ideia, eles já fizeram três histórias mostrando a origem do tal do Super Macaco. E, em todas elas, têm algo diferente.
— Como assim?
— Na primeira, ele era um macaco que ganhou poderes depois de nadar num lago. Aí, fizeram contando que na verdade os seus poderes não vem do lago, mas sim do fato de que, quando estava nadando, foi mordido por um peixe poderoso.
— Peixe?
— Isso. Depois, lançaram outra história, mostrando que o Super Macaco veio de outro planeta depois que os pais dele foram assassinados e, chegando ao Paraíso, descobriu que seus poderes aparecem quando ele fica nervoso, graças a uma armadura que ele fez usando um tronco de carvalho.
— Eu não entendi nada.
— Eu também não. Mas vendeu bem.
— Vendeu?
— Isso. Eles desenham as histórias do tal do Super Macaco em folhas de bananeira e ficam vendendo para os outros animais.
— Vendendo?
— Vendendo. Todo dia eles têm uma história nova. Eles até bolaram um nome para essas folhas de bananeira. Chama Folhetim de Bananeira.
— Entendi. Bem, você Me ligou para pedir que a escrita seja inventada e sua história fique melhor.
— Isso.
— E, assim, você vai vender mais histórias que os macacos. E vai ficar rico.
— Não, não é nada disso.
— Então, por que você está pedindo para que eu invente a escrita? Não é para competir com os macacos?
— Não, Senhor. Posso ser sincero?
— Claro.
— Eu quero apenas contar a melhor história possível. Eu não estou preocupado com o tal do Super Macaco. Se os outros animais gostam… Bem, isso é com eles. Eu só quero trabalhar nessa história que criei para que ela fique o melhor possível.
— Adão, é difícil ser onisciente desse jeito. Você é imprevisível demais.
— Bem…
— Você Me dá um minuto?
— Claro.
— Voltei.
— Já?
— Sim. Fui até sua caverna e olhei os desenhos. Realmente, são muito bons.
— Obrigado.
— E gostei daquilo que você fez, de desenhar uma moldura ao redor de cada desenho. Ficam parecendo pequenos quadros pendurados na parede da caverna.
— A Eva disse a mesma coisa sobre esses quadrinhos que eu fiz. Disse que quando a história estiver pronta, vai parecer uma história em quadrinhos na parede.
— Eu gostei bastante.
— Obrigado.
— Adão, é o seguinte. Eu não posso autorizar a invenção da escrita ainda.
— Mesmo? Nem algumas vogais?
— Não. Mas Eu tenho uma ideia.
— Sua ideia não envolve anjos com espadas de fogo descendo até aqui, certo?
— Oi? De onde você tirou isso?
— Bom, é que isso sempre acontece quando eu tento algo novo.
— Adão, quer ouvir minha ideia?
— Sim.
— Você me conta o que quer que seus personagens pensem ou falem, e Eu escrevo. Assim, sua história será escrita. Mas a escrita ainda não será inventada.
— Como assim?
— Você desenha e Eu escrevo. Que tal?
— Perfeito!
— Mas com uma condição. Nós não poderemos usar nossos próprios nomes. Porque Eu ou você não podemos assinar uma história feita em quadrinhos numa caverna. Isso pode me dar uma dor de cabeça enorme daqui a alguns séculos. Você aceita?
— Claro! Mas quais nomes nós usaremos?
— Depois vemos isso. Vamos primeiro escrever a história.
— Certo!
Assim, Adão passou noites e mais noites desenhando. E, um dia, ligou para Deus e contou que sua história estava terminada. Contou o que era cada quadro e Deus se prontificou a escrever tudo. Antes de descer até a Terra, ligou para o departamento de linguística e pediu ao anjo encarregado que criasse duas palavras totalmente novas, usando símbolos aleatórios de línguas diferentes.
Depois de receber a resposta do anjo, Deus desceu até a caverna e passou a noite escrevendo os diálogos e narrações, seguindo as instruções de Adão. Pouco antes do amanhecer, o trabalho estava quase terminado, faltava apenas assinar. Desta forma, Deus escreveu, logo abaixo do último desenho:
“Uma história em quadrinhos na parede, feita por Will e Eisner”.
Releu a história inteira. Estava boa. Estava muito boa.
Subiu de volta aos céus e convocou dez anjos, encarregando-os de uma missão: cada um deles iria de madrugada até a caverna de Adão e copiaria a história em folhas de bananeira. E, quando tivessem folhas de bananeiras suficientes, entregariam uma cópia para cada animal do Paraíso. Um dos anjos chamou sua atenção.
— Mas nós somos apenas dez. Serão muitas cópias.
— Por isso que é importante que cada um de vocês avise outro anjo. Quanto mais anjos ajudarem, mais longe essa história pode ir.
— Mas, Senhor, por que logo essa história?
— Porque ela é boa. Porque ela foi feita com amor.
— Entendi.
— E não se esqueça de uma coisa: um dia, o Paraíso vai desaparecer. Eu sei disso. Então, é importante que todos já entendam uma coisa.
— O quê?
— Que o Paraíso nada mais é que uma história boa. Sempre que uma pessoa se apaixonar por uma história, ela terá descoberto um Paraíso só dela.
— Entendi. Para mim, então, o Paraíso seria aquela história que o Super Macaco precisa lidar com o retorno do verdadeiro Super Macaco.
— Oi?
— O Senhor não viu essa? O Super Macaco descobre que na verdade é um clone, e precisa…
— Isso não importa agora, Lúcifer. Vá fazer o que eu pedi.
Como vocês perceberam, o grupo anda ocupado demais para se dedicar como se deve ao blog, mas essa ainda é uma de nossas paixões.
Para não deixar-vos esquecer desse trio, venho dar uma dica de jogo, o e-sim.
O e-sim é um simulador de sociedade bastante completo, e por isso mesmo, bastante complexo.
O jogo é jogado no próprio navegador, não sendo preciso instalações, ou downloads, e não possui quase nenhuma imagem, o mais importante são os dados numéricos, bem no estilo do extinto Eixo do Mal.
Nesse simulador, você nasce como cidadão do seu próprio país (ainda não existem todos os países, mas o Brasil está lá), e vive da maneira que preferir. O começo é simples, treine para aumentar seu poder de dano e trabalhe em alguma das empresas disponíveis. Ao aumentar de level, você ganha ouro e pode ter a sua própria empresa e outras coisinhas mais, além de poder votar e se candidatar a cargos políticos.
Na realidade, o jogo é uma disputa pelo poder, seja ele militar, político ou econômico.
O jogador escolhe qual, ou mesmo quais, instâncias prefere para concentrar seus esforços.
Você pode entrar em um partido e candidatar-se ao congresso, ou mesmo à presidência do Brasil. Alguns partidos tomaram conta do poder e não largam o osso por nada. Este mês um novo presidente foi eleito, mas não conseguiu chegar à metade de seu mandato pois os congressistas da oposição propuseram seu impeachment quase que diariamente, colocando novamente o antigo presidente no poder.
Você também pode escolher tornar-se um soldado, seja do exército brasileiro, seja de uma unidade militar privada. Para isso basta estudar como a guerra acontece.
Ou ainda abrir uma empresa e tornar-se vital para a economia brasileira, ganhando rios de dinheiro, ou focando-se na exportação para outros países.
As opções são muitas.
As críticas ao jogo, porém, existem. O jogo tem um foco neo-imperialista quase obsessivo. Vive-se para lutar contra outras nações.
O jogo é simples, mas torna-se complexo à medida que você entende suas verdadeiras regras: Contatos são importantes.
Finalmente minha aluna mandou algumas imagens do castelo que ela criou no jogo Minecraft, citado nesse post mais antigo. O primeiro castelo de Portugal, de acordo com ela!
Minha relação com o RPG sempre esteve muito próxima da minha relação com tecnologia. Dos meus doze aos quatorze anos, quando eu não jogava fisicamente com amigos da rua, jogava por e-mails, nos antigos PBeMs (Played By e-Mail). Conheci muita gente boa por ali, aprendi a escrever e narrar com eles (muito embora só tenha aprendido a usar crases com meu orientador...) e até hoje sinto saudades dos eventuais chats que fazíamos ou mesmo da ansiedade de se receber a próxima mensagem do mestre avançando a campanha.
Depois, os PBeMs foram morrendo, meu grupo de jogo na rua foi deixando de lado o RPG para passarmos a atividades mais típicas e menos imaginativas (até começamos uma banda!). Voltei a arranjar um grupo na escola técnica em que estudei, com amigos que carrego comigo até hoje. Parte deles continuou a jogar comigo por anos. Vez por outra, quando não podíamos nos encontrar, jogávamos por chats, que ajudava e era divertido, mas que não se comparava à jogatina física.
A última vez em que mestrei um jogo foi no final do ano passado. Desde então, eu e meus amigos não temos conseguido marcar novamente, sempre temos alguma coisa. As nossas vidas têm ficado mais corrida, mais cheias de responsabilidades - e mesmo a distância física também é maior agora. Descobri, contudo, algo que pode nos ajudar - e ajudar a muitos outros grupos por aí. Eu sei que tem bastante gente (bem, não bastante bastante, mas bastante entre os poucos que jogam on-line) que usa o Skype com esse propósito, mas o fantástico site roll20 oferece muitos, mas muitos recursos mesmo. Sem mais delongas, fica aqui um vídeo para que vocês mesmos julguem.
Quem quiser aprender a usar melhor, tem um monte de tutoriais no youtube. Só com alguns conhecimentos básicos, contudo, já se pode realizar uma campanha legal - especialmente se você ou o seu grupo não se importarem tanto com "tabuleiros" e usarem as partes gráficas mais como referência. Enfim, escrevam aí o que acharam! Abração!
O grupo Interpretar e Aprender é paulistano, mas tentamos trazer os melhores eventos do Brasil inteiro para os leitores. Agora é a vez da região sul.
Acontece no Memorial do Rio Grande do Sul, neste final de semana (12 e 13/04) mais um encontro dedicado à literatura fantástica. A Argonautas Editora promove o evento cheio de lançamentos, autógrafos e palestras com autores, ilustradores e estudiosos.
O destaque vai para o lançamento da coletânea "Crônicas da Espada e Magia" que reúne contos fantásticos de escritores consagrados como George R. R. Martin.
O Roleplaying game fica por conta da Jambô com oficinas de RPG durante todo o domingo.
A Bagunça Literária é um evento de editoras independentes que propõe um contato direto com o público. Os visitantes poderão comprar livros com descontos, conhecer alguns dos autores e ter seus livros autografados, e até ganhar brindes.
A localização é de fácil acesso: Pier 1327, Rua Joaquim Távora, 1327, Vila Mariana.
Como havia dito, a FEBRACE é uma feira nacional de ciências e engenharia que ocorre anualmente na POLI-USP, com alunos de 8º, 9º anos do fundamental e do ensino médio. Contei um pouco da minha experiência com essa metodologia neste post aqui.
Na FEBRACE, claro, os trabalhos são excelentes, pois passam por um crivo bastante rígidos de avaliadores já graduados em suas áreas. Os colégios técnicos se destacam em áreas como biologia e engenharia por já contarem com especialistas e laboratórios mais avançados que os colégios comuns. A região Nordeste do Brasil se destaca pela preocupação com suas próprias comunidades e projetos que visam resolver problemas práticos de forma econômica e sustentável.
Todo ano há trabalhos que se preocupam com a própria educação. Neste ano, os 3 primeiros lugares em ciências humanas, tanto na categoria individual, tanto em grupo, pesquisaram os métodos e ferramentas pedagógicas. Dois trabalhos sobre educação olhavam para o vídeo-game como uma forte ferramenta pedagógica. O primeiro, aqui da cidade de São Paulo, utilizava o jogo Minecraft para o ensino de Geografia. O segundo, idealizado por alunos do 9º ano, utiliza o Minecraft para um projeto mais audacioso.
Mas antes, temos que explicar o que é este jogo. O Minecraft é um jogo de péssimos gráficos que envolve, de maneira que precisa ser estudada, muitos adolescentes com acesso à internet.
No jogo, você pode criar, basicamente, qualquer coisa. Os blocos podem ser construídos e destruídos, e o único limite é sua própria imaginação. Claro que alguns jogadores acabam se especializando e criando obras-primas. Como uma pirâmide Maia:
As imagens parecem ter um bom gráfico porque estão distantes dos detalhes, os blocos são os mesmos. Eu demorei para escrever este blog pois uma aluna do 8º ano construiu um castelo medieval (estávamos vendo Baixa Idade Média) e pedi para que ela me enviasse algumas fotos, mas como todo bom aluno, esquecem que o professor existe e se interessam por suas produções!
Bom, vocês já devem estar imaginando zilhões de usos para o jogo. Até a ONU entrou na parada. Um projeto pretende utilizar o Minecraft para melhor visualizar o planejamento urbano de algumas regiões. Eu só não conseguia entender como um jogo que tinha péssimos gráficos e sem um objetivo claro conquistava tantos adolescentes. É sabido que os gamers mais novos se importam muito com os gráficos, de maneira geral. Mas, espere um pouco, construir mundos sem gráficos não é exatamente o que fazemos, tanto no RPG quanto na educação??? (Principalmente em história) Isso ficou mais claro ainda quando vi o segundo trabalho sobre o jogo.
Antes de falar sobre o projeto, ainda resta dizer que o Minecraft possui uma licença de modificação do jogo. Isso quer dizer que você, eu, ou qualquer um pode modificar o jogo a nosso bel-prazer. Isso significa criar outros tipos de blocos e respostas para alguns estímulos (interação entre personagens, por exemplo). Bastante parecido com a prática dos RPGistas.
O Educablocks é um projeto bem diferente, pois, não só utiliza o Minecraft como uma ferramenta pontual, e sim como um método transdisciplinar para incentivar o estudo dos alunos. Os alunos modificaram o jogo para construir uma réplica da própria escola.
Os alunos que jogassem encontrar-se-iam na própria escola, interagindo com professores e atividades de maneira prazerosa. O projeto não está finalizado, mas os criadores idealizaram salas para cada professor, avaliações e até um sistema punitivo para as condutas não-desejadas: simplesmente um tempo banido do jogo. (Quem é jogador de MMO´s sabe o poder do BAN)
Enfim, opções não faltam. Este é um exemplo do grito clamando por mudanças vindo dos próprios alunos. Seja o Minecraft, seja o jogando Assassin´s Creed para os alunos entenderem melhor a sociedade veneziana do início da Idade Moderna ao lerem Otelo de Shakespeare, o vídeo-game chega para ficar na educação e não pode ser deixado de lado por professores novos ou velhos.