O grupo “Interpretar e Aprender” surgiu como ideia nos corredores da Universidade de São Paulo por três estudantes de História interessados em integrar diversão e aprendizagem. Apaixonados tanto por narrativas fantásticas quanto pelo ato de ensinar, estes amigos decidiram criar um grupo cujo intuito seria trabalhar, de forma prazerosa, os conteúdos escolares - e não haveria melhor maneira de fazê-lo do que utilizando o RPG, ou Role Playing Game.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Mais uma desculpa para continuar falando de orcs com sex-appeal

"How you doin'?"


Uma das coisas mais fantásticas que o RPG proporciona é a possibilidade de se tentar sair de si. Se desapegar de seus próprios valores, de se buscar entender o outro, de tentar se reconstruir em um novo universo. É claro que cada um de nós possui arquétipos favoritos e é normal que busquemos jogar mais com personagens que sigam estes modelos do que com outros.



Eu sempre gostei de criar personagens exóticos, mas, vez por outra, sigo arquétipos-padrão, pois eles também são atraentes a seu modo. Os últimos quatro personagens que fiz foram, na ordem: um vigilante halfling (sabe os hobbits? então, pense em um batman hobbit...) amargurado em busca de vingança, um caçador de lobisomens amargurado em busca de vingança (ok, não estava em uma fase muito criativa), um aluno covarde de uma escola de magia iniciando-se nos caminhos ocultos e, por último, um forasteiro misterioso (mas simpático!) que, na verdade, era um pirata que fugira de seu país de origem por ter roubado de seu capitão.



Nananananananana... Bat-Halfling!


Não reinventei a roda em nenhum deles, certo? Bem, não, ao menos, no nível de um orc com sex-appeal, mas cada um deles foi especial, para mim, por suas diferenças entre si, seja por conta de suas histórias, seja pelas diferenças de perspectivas. Mesmo o Bathobbit e o caçador de lobisomens vingativo se comportavam de forma diferente: o primeiro, apesar de ser sisudo e amargurado, tinha que lutar contra a alegria e inocência intrínsecas de seu povo, enquanto o segundo, bem, este já era bem derivativo mesmo - obsessivo, obstinado, etc.



Como plataforma educacional, acredito que o RPG carregue consigo esta possibilidade interessantíssima de nos fornecer meios para que observemos situações de ângulos diferentes, de acordo com conjunturas diferentes. Sabe quando dizemos "e se..."? É um exercício de reflexão interessante e importante - em administração, por exemplo, fazer projeções de acordo com cenários diferentes nada mais é do que um grande "e se...?" - e sobre o qual o RPG se baseia.



Se você vivesse em um universo onde matar goblins por diversão faz parte do entretenimento do povo e se seu personagem fosse um amante da natureza, como ele se posicionaria? E se ele soubesse que os goblins deste universo possuem, como parte de seus instintos, a necessidade de destruir fauna e flora de onde quer que vivessem? Este tipo de exercício criativo permite que especulemos experiências e situações que, de outro modo, jamais viveríamos!





E se os tais goblins destrutivos fossem tão simpáticos quanto este rapaz aqui?


E se você morasse em uma nação rica que explorasse as nações mais pobres ao seu redor, como você se posicionaria? E se você fizesse parte da elite desta nação? E se você fizesse parte do grupo de pessoas que sonha um dia em fazer parte da elite? Para cada universo, para cada personagem, para cada jogo existe uma multitude de questões e situações que podem ser trabalhadas! Em História, por exemplo, como agiriam os jogadores se fossem fidalgos em busca da salvação na Terra Santa quando descobrissem, ao voltar para casa, que seu antigo reino tinha sido invadido por outro? Em Geografia e/ou Biologia, como fariam os jogadores para sobreviver em um bioma hostil, como os sertões ou as tundras? Em sociologia, como seria viver como parte de uma minoria em uma sociedade preconceituosa e discriminatória? Enfim, as possibilidade são tão finitas quanto a imaginação de jogadores e mestres! Criar personagens é fascinante e é mais legal ainda experimentar viver a sua criação. Quer como forma de instigar a criatividade ou o exercício de reflexão e empatia, poder ser um outro alguém em um outro lugar e em outros tempos nos possibilita compreender muito melhor o que pensa o Outro e em nossa relação com ele.


"No, how YOU doin'?"

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