O grupo “Interpretar e Aprender” surgiu como ideia nos corredores da Universidade de São Paulo por três estudantes de História interessados em integrar diversão e aprendizagem. Apaixonados tanto por narrativas fantásticas quanto pelo ato de ensinar, estes amigos decidiram criar um grupo cujo intuito seria trabalhar, de forma prazerosa, os conteúdos escolares - e não haveria melhor maneira de fazê-lo do que utilizando o RPG, ou Role Playing Game.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

RPG em Educação Financeira - SimPolítica

Continuando a nossa experiência, contarei um pouco sobre o 8º ano. Devo dizer que essas turmas eram bastante agitadas, mas também muito participativas e abertas a novas experiências. No fim das contas, isso facilitou bastante.

Como citado no post anterior, o foco foi o orçamento público em suas diferentes esferas.
O primeiro desafio foi um tema muito comum, mas que causa bastante confusão na cabeça das crianças: o transporte público. É um tema sempre discutido nas escolas mas nem sempre de uma forma profunda, e principalmente fora do escopo político atual de cada cidade. Após algumas discussões em classe, ficou claro que cada esfera de governo tem suas obrigações e nem todas os problemas são simples de resolver. Os projetos acabaram por ser bastante básicos e poucos detalhes sairam do senso comum. Entre os melhores há a ideia de um grupo de inserir o ciclismo nas aulas de educação física na educação pública. Claro que há dificuldades como as próprias bicicletas, mas a criatividade do grupo foi excelente pois visa a solução do problema de forma sustentável e permite o desenvolvimento social de áreas que, geralmente, não tem oportunidades como tal. Muitos grupos, entretanto, tiveram posturas extremamente totalitárias como obrigar as pessoas a passar álcool gel ao andar de ônibus para diminuir a transmissão de vírus e bactérias e armar os motoristas de ônibus para combater a violência urbana. O gancho, na verdade, foi ótimo, pois estávamos estudando os regimes absolutistas totalitários europeus em História e eles perceberam que o Estado tem um poder gigantesco sobre nossas vidas.
Esse primeiro turno, justamente pela novidade, não foi tão complexo e os relatórios não estavam escritos como eu imaginava que seriam. Ao longo do tempo esse aspecto melhorou bastante, alguns grupos fizeram relatórios de quatro, cinco páginas.

O segundo turno foi polêmico: o uso de substâncias ilícitas. O tema foi proposto pela coordenação da escola em um movimento de discussão para a prevenção do uso de drogas. Em todas as séries o tema foi tratado em algum momento, de alguma maneira. Demorei-me mais nesse turno devido às diversas dúvidas dos alunos e discussões sobre a postura do poder público frente às adversidades: é um problema de segurança ou saúde pública?
Apenas um dos seis grupos preferiu a repressão à prevenção. As propostas na área de educação como palestras sistemáticas eram as mais simples e coerentes, e a criatividade não foi muito longe nesse turno, apesar de muita discussão em sala.

O descarte do lixo foi o último tema. A aula de sensibilização não foi longa para que os grupos logo começassem a trabalhar. Orientei, dessa vez, a pesquisa de projetos de descarte em cidades diversas pelo mundo. O momento não era propício. Diversos outros projetos, provas, feriados e um estudo do meio distanciaram demais a aula em que o desafio foi proposto da aula em que deveriam entregar os relatórios. Os poucos relatórios entregues não tinham nada inovador. Após esse turno o jogo foi interrompido.

Alguns pontos, entretanto, são interessantes de ressaltar, e principalmente alguns aprendizados para o professor:

Esse 8ºano não tinha maturidade o suficiente para nos surpreender nesse tipo de projeto, mesmo assim, as relações estabelecidas entre conteúdos e a severidade do relatório, assim como as pesquisas que fizeram para a atividade desenvolveram-se muito ao longo do semestre.

Os alunos esquecem absolutamente tudo nas férias. No ano anterior, um grupo havia criado uma solução muito inovadora para a lotação do metrô de São Paulo. Um sistema de sensores de luz na porta de cada vagão para a contagem das pessoas e a informação de qual vagão estava mais vazio (ou menos cheio, dependendo do horário) à população na plataforma. Mesmo produzindo um protótipo, esse ano os alunos nem citaram tal projeto.

Ao tornar-se agentes e criadores do conhecimento, alguns pontos bastante complexos são muito melhor compreendidos. As secretarias, por exemplo, no primeiro turno, invadiam uma a esfera de ocupação da outra, o que ocorreu bem menos nos turnos seguintes

A dinâmica em grupo, sempre complexa, não foi um problema mesmo com um grupo tão grande.

Para conhecer o trabalho com o 9º ano, clique aqui

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