No sábado (12/09) fechamos a aventura que contava a turbulenta passagem da república para o império da civilização romana. Essa foi a primeira vez que não realizamos uma one shot e os personagens ganharam XP entre uma sessão e outra. A atividade foi muito interessante, principalmente porque contamos com um novo professor-narrador conosco: Danilo Vieira. Ele contou um pouco como foi essa experiência, e esperamos que continue colaborando com suas reflexões, risadas, etc.
Roma
Para Garotos
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Estátua de Vercingentorix, Bugundia. |
Depois
de vencer Vercingentorix na Batalha de Aléssia, os campeões de Cesar atravessam
o Rio Rubicão, para mais tarde ascenderem como patrícios de uma Roma em
constante expansão. Porém, alguns dos guerreiros escolhem ficar contra o Cônsul
e decidem enfrentam as consequências de viver como fugitivos nos arredores da
capital da República.
Essa
é a história que se passou antes da minha primeira sessão de RPG
profissionalmente. Os guerreiros que lutaram ao lado de César contra o rei
gaulês são estudantes entre 12-14 anos. Minha experiência começou discutindo
com o Paulo e o Thiago maneiras de como continuar aventura a partir da cena
descrita no início do post. Como seriam as aventuras dos guerreiros, que agora
se tornaram “novos patrícios” ou opositores de Cesar. Eu sou professor de
Física, e só conheço a história de Roma por lembranças embaçadas dos conceitos
ensinados nos meus anos de educação básica, portanto no começo fiquei um pouco
perdido e receoso, mas com o tempo fui me acostumando com a ideia toda.
Foi
muito interessante participar de todo o processo de criação da aventura e
perceber o quanto o Grupo Interpretar & Aprender lida de forma profissional
com o RPG na educação. Me pareceu que o objetivo principal é criar a curiosidade nos
alunos sobre os assuntos, e não tanto passar datas, nomes ou coisas do
tipo. Eu gostaria muito que o grupo crescesse, e pudesse englobar outras
pautas, como incorporar jogadoras estudantes e mestras no Grupo.
Confesso
que não tenho muita experiência mestrando, e grande parte da minha vida
rpgística foi como jogador, mas mestrar para as crianças me fez repensar
diversas pontos sobre metodologias de ensino. Apesar de ter sido avisado que
alguns alunos eram muito ativos, ou se dispersavam facilmente, me impressionou o quanto eles prestavam a atenção na aventura e se interessavam
pelo que acontecia.
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ROYER, L. Vercingentorix joga as armas aos pés de Julio Cesar. 1889 |
Durante
a sessão, próximo do final da aventura, um momento me chamou bastante atenção.
Eu estava narrando uma cena em que Marco Aurélio e Otávio iam conversar com os
personagens dos alunos, e comecei falando que tinha dois homens que pareciam
grandes nobres romanos. Um dos jogadores me interrompeu e falou “ah o
outro cara que está acompanhando ele deve ser o Otaviano”, enquanto eu ainda
estava apresentando o Marco Aurélio. O que só reforçou a ideia de que além de
incrivelmente espertos, os alunos fazem relações que muitas vezes não
prevemos. O RPG se mostrou uma ferramenta muito poderosa, tanto para usufruir da
curiosidade dos os alunos, como uma forma de se aproximar dos mesmos, e
conhecer as formas particulares com que eles trabalham o conteúdo que lhes
é apresentado.
Todo
esse processo me fez pensar como aplicar o RPG numa metodologia de ensino de
Física. A Física possui obvias diferenças (e não tão obvias similaridades) com a
História, e essas diferenças resvalam quando se pensa em um jogo aplicado ao
ensino. Um dos grandes entraves ao ensinar física, é o esforço em não deixar o conteúdo
muito matematizado, porém sem esquecer que a Matemática e a Física caminham
juntas. Atualmente, a pressão do vestibular e um currículo inchado fazem com
que grande parte do que é ensinado em Física se resuma a “fórmulas”. Mas
acredito que o RPG possa ser usado para tirar essa rigidez do ensino de física,
e deixar o aprendizado um pouco mais livre e imaginativo, características que
às vezes não se encaixam quando pensamos o ensino de ciências naturais.