O grupo “Interpretar e Aprender” surgiu como ideia nos corredores da Universidade de São Paulo por três estudantes de História interessados em integrar diversão e aprendizagem. Apaixonados tanto por narrativas fantásticas quanto pelo ato de ensinar, estes amigos decidiram criar um grupo cujo intuito seria trabalhar, de forma prazerosa, os conteúdos escolares - e não haveria melhor maneira de fazê-lo do que utilizando o RPG, ou Role Playing Game.

terça-feira, 10 de julho de 2012

O hábito de se pensar em um jogo...

O que te move? Qual o propósito que você procura dar à vida? Aprender? Ter coisas? Dançar? Falar? Ter prazer? A vida por vezes parece um jogo de xadrez, cada dia uma jogada. Algumas jogadas formam um caminho para se alcançar um objetivo, outras são maneiras de despistar jogadas mais elaboradas, outras ainda são simplesmente movimentos desavisados.

Fazer de um jogo de xadrez enquanto uma metáfora para a vida não é uma metáfora desavisada. Não nesse espaço, pelo menos. Até agora estivemos discutindo sobre como o jogo pode ser interessante para o desenvolvimento de nossas relações sociais; como  um jogo pode ser importante na construção cognitiva que irá reger processos mentais ao longo da vida, em jovens aprendizes, ou ainda como  essa potencialidade pode desbastar campos ainda desconhecidos nas mentes mais velhas. O interesse em associar jogos ao desenvolvimento cognitivo nasce pelo fato de que o jogo sempre esconde uma motriz [oculta] que deve ser dominada instintiva ou racionalmente para promover a vitória de um jogador ou de um grupo de jogadores. O xadrez, por exemplo, é um jogo de tabuleiro que baseia-se em uma série de princípios matemáticos para limitar os movimentos das peças num propósito de derrubar o rei inimigo.

Não apenas a matemática se esconde sob o tabuleiro de xadrez. Se a próxima jogada está sempre relacionada as estatísticas e probabilidades de jogo que mais facilmente levarão este ou aquele jogador a derrubar o rei inimigo, há também que se cogitar a importância de conhecer seu adversário. Não por acaso o enxadrista Garry Kasparov tornou-se lendário. Suas estratégias além de serem absolutamente calculadas, por vezes criavam "iscas" de onde sairiam jogadas igualmente perigosas a estratégia identificada pelo adversário. Querendo dizer: Kasparov, ao perceber que seu adversário havia notado os caminhos que ele seguiria para derrubar o rei, iniciava, a partir de uma "isca", uma nova estratégia, que seria percebida enquanto tal apenas 2 ou 3 jogadas depois de iniciada.

No xadrez, perceber o que está acontecendo no tabuleiro é essencial para se alcançar seu objetivo, assim como na vida. Existem muitas maneiras de se jogar xadrez e muitos níveis para se treinar, porém o importante e essencial em um bom enxadrista é sempre estar ciente dos caminhos assumidos por seu adversário. O hábito de jogar xadrez torna-se importante a seus jogadores não apenas enquanto raciocínio matemático, mas também como um hábito mental de notação do ambiente e daquilo que dito, expressa o não dito. No jogo o exemplo é claro: mover um peão dificilmente é decidido apenas para ganhar campo com aquela peça, um enxadrista sabe que mover um peão é também abrir campo para o movimento de um bispo, ou ainda garantir que no próximo movimento de seu cavalo a peça estará automaticamente protegida ao alcançar seu destino.


O RPG aprendeu muito com  esse antiquíssimo jogo de estratégia. Nas histórias narradas o pano de fundo costuma se explicitar de maneira muito pouco clara. Ainda que o bom jogador, interessado em manter seu personagem em vantagem, sempre irá se utilizar de qualquer detalhe que puder para entender o mundo e os perigos que o cercam.

Um comentário:

  1. Lembro-me de um projeto para as ecolas públicas para ensinar o jogo de xadrez, com tabuleiro gigante e as crianças sendo cada peça do jogo, incluindo as fantasias...
    Além de parecer bastante com o RPG, na vivência da personagem, esse tipo de estratégia tem comprovada eficácia em vários níveis do desenvolvimento infanto-juvenil: atenção e concentração, capacidade de análise-síntese, organização espaço-temporal, etc.

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