O grupo “Interpretar e Aprender” surgiu como ideia nos corredores da Universidade de São Paulo por três estudantes de História interessados em integrar diversão e aprendizagem. Apaixonados tanto por narrativas fantásticas quanto pelo ato de ensinar, estes amigos decidiram criar um grupo cujo intuito seria trabalhar, de forma prazerosa, os conteúdos escolares - e não haveria melhor maneira de fazê-lo do que utilizando o RPG, ou Role Playing Game.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Fiat Lux!

                  E tudo começou com um grande Big Bang! Bang! (Cosmogonia Grega, projeto de Marcelo Bicalho)

No começo, há sempre um verbo. Os universos são. A criação de um universo de jogo para um RPG tem potencial para ser a atividade mais complexa que um mestre ou jogador poderiam realizar em um jogo. Pode-se optar, claro, por caminhos simples: delineamentos genéricos, aventuras que não exijam grande conhecimento do cenário, derivação de universos já conhecidos. Por outro lado, pode-se encarar a tarefa como o faria um escritor de fantasia. E aí começam os problemas.

É praticamente impossível não pensar em Tolkien, C.S. Lewis e, atualmente, em George R. R. Martin quando se fala da literatura de fantasia medieval, assim como não se pode deixar de lado Philip K. Dick e William Gibson ao se tratar de fantasia especulativa ou ficção científica ou Anne Rice, pensando na fantasia sobrenatural contemporânea. Estes referenciais fundamentaram os seus gêneros literários com sua originalidade e, quanto mais próximo do universo deles, mais familiar é o universo recém-criado. Existe, no mercado, dezenas de livros, jogos e filmes calcados nos parâmetros alçados por estes autores, alguns desviando-se pontualmente, outros mais profundamente.

Elfos, anões, orcs, dragões. Ciborgues, androides, mundos pós-apocalípticos. Vampiros, bruxas, demônios. As derivações fantásticas se espalham, algumas reinterpretando os elementos da fantasia, outras desconstruindo estes alicerces mas, em sua maioria, estas produções mudam o cenário, o contexto, e mantém-se fieis aos fundamentos originários. Este caminho é bastante inteligível: se conhecemos os elfos de Tolkien, não precisamos ser apresentados por completo aos elfos do Warcraft, basta que entendamos suas especificidades. Esta familiaridade permite que nos aproximemos com mais segurança de uma obra, ao mesmo tempo em que as diferenças, o que é novidade, nos intriga.

A atratividade de um universo fantástico geralmente está atrelada a um equilíbrio entre o que é familiar e o que é inovador. Se for excessivamente familiar, o ambiente é derivativo e não intriga e, se for muito inovador, pode se tornar alienígena, intimidador. Para que seus jogadores, leitores ou espectadores se interessem por seu universo, o criador deve ter em mente estes dois parâmetros: "Em que estou fundamentando meu trabalho?" e "Como posso criar algo novo a partir disto?". Esta relação entre novidade e familiaridade também pode ser equilibrada com as próprias novidades ou familiaridades da história a ser contada neste universo. Uma história familiar em um universo desconhecido (Senhor dos Anéis, Guerra nas Estrelas e o mito do herói) ou uma história desconhecida em universos familiares (O Discworld inteiro de Terry Pratchett trata disso, por exemplo, mas podemos pensar que todo tipo de história que se propõe passar 'no mundo real' nada mais é do que isso) também funciona, claro.

Depois disso, de descobrir onde está a originalidade de seu universo - ou se ela estará nas narrativas a serem desenvolvidas neste ambiente -, o criador deverá decidir os detalhes, como a história, geografia, as culturas, etc. Esta parte é cansativa, mas, quanto mais detalhada, melhor entendida ela será por quem constrói a narrativa e, no caso do RPG, mais capaz de sanar as dúvidas dos jogadores o mestre será. O módulo básico do Gurps sugere que criadores de cenários organizem a criação de seus universos segundo os seguintes itens: História, Geografia, Línguas, Culturas, Leis e Costumes, Sociedade e Governo, Magia e Tecnologia, Empregos e Profissões e, finalmente, Guerras, Armas e Combate. É um bom caminho, mas de nada adianta se você não tiver em mente o primeiro passo: O que faz com que seu universo seja especial?

Bons Big Bangs a todos!


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