O grupo “Interpretar e Aprender” surgiu como ideia nos corredores da Universidade de São Paulo por três estudantes de História interessados em integrar diversão e aprendizagem. Apaixonados tanto por narrativas fantásticas quanto pelo ato de ensinar, estes amigos decidiram criar um grupo cujo intuito seria trabalhar, de forma prazerosa, os conteúdos escolares - e não haveria melhor maneira de fazê-lo do que utilizando o RPG, ou Role Playing Game.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

7.000.000.000 de pessoas conformam a humanidade?


Uma pergunta de resposta difícil essa. Porque a humanidade, posta desta forma, implica em uma relação entre o individuo e a coletividade que o cerca. Alguns, firmados na certeza da materialidade responderão que sim, porque afinal somos todos compostos pelos mesmo elementos químicos, com as mesmas funções vitais, agindo como animais; outros titubiarão ao ser tão categóricos nessa resposta, uma vez que o que define o homem, o que o aparta do mundo animal é sua capacidade de pensar, o fato de ele ser um ser cultural. Se o mundo simplesmente existe, um ser humano só se entende como tal em relação a alguma coisa, seja outro ser humano seja em oposição a natureza. Podemos afirmar então que o homem é um ser cultural e material [animal] e existe uma miríade de culturas humanas habitando e que já habitaram o mundo, hoje com seus sete bilhões de habitantes.

A cultura seria o refinamento da percepção humana para se colocar em relação ao seu entorno. Quando a realidade se limita as percepções humanas então tudo o que existe passa pelo crivo daquilo que conseguimos notar. Há sempre o problema da loucura que se insere nessa problemática. Normalidade é um conceito criado e aceito por um grupo; se o líder do grupo nu, define que suas roupas são belíssimas e o grupo aceita seria o louco aquele que aponta a nudez de sua liderança ou seria louco todo o grupo que aceita a vestimenta imaginária enquanto bela? 


O que venho tentando apontar com essa série de posts discutindo a narração é o fato de que o jogo pode acrescentar a essa discussão por pertencer e habitar estritamente o espaço lúdico, inventivo, imaginário da percepção humana, pouco ou nada do conceito de um jogo habita seu suporte físico. O RPG em especial é um tipo de jogo que se passa estritamente na imaginação de seus jogadores, pouco se debruçando sobre a realidade. Assim também funciona a literatura, científica ou ficcional, porém por se aportar em bases materiais essa notação é dificultada para o leitor que irá acessá-la por interesse acadêmico ou simplesmente para seu entretenimento.

As questões da percepção, da possibilidade de uma loucura coletiva e da linguagem enquanto método de acesso ao mundo real, são questões filosóficas profundas que exigem um olhar clinico para sua percepção. Mais do que isso elas servirão apenas a aqueles que estiverem interessados em associar-se e em promover determinado projeto social em detrimento do que se tem ou do que se pode vir a ter.

4 comentários:

  1. Bom, você mesmo confirma no seu texto que há coisas que definem seres humanos e também coisas que os distinguem. Se existem e existiram diversas culturas os dividindo, só sobra a biologia para ligar essa humanidade toda. Logo, a única coisa que une todos os humanos são suas características fisiológicas, como bons humanistas e versados em ciências em geral poderiam nos afirmar facilmente.

    Uma vez conversamos sobre essa questão da realidade que tanto lhe aflige e repito o argumento: mesmo que existisse todo um aparato cultural dizendo que postes não existem, você ainda trombaria em um se tentasse ocupar involuntariamente o mesmo espaço físico dele. Sua explicação para o nariz sangrando e os dentes rachados poderia ser qualquer uma: isso não muda o fato que você deu com a face em algo feito de concreto armado e aí já nasce a dúvida sobre a realidade.

    E isso é um ponto importante, Paulo, não só para afirmar que o que é concreto sempre se manifesta fisicamente mas também por uma característica científica que você parece não levar em conta: a incerteza. Nenhuma área científica que mereça esse nome trabalha com certezas. Sempre há margem de erro mesmo se a tarefa é aparentemente simples, como contar quanto cálcio há em um sedimento ou simplesmente somar um mais um. O que é isso se não a confirmação que nenhum cientista trabalha com a ideia de domínio positivista completo sobre algo? Não é que não se quer, só não se consegue...

    Quanto ao que ocorre no mundo ser obra de nossa percepção, depende do que falamos. Humanos não existem desde o surgimento da matéria, como sabemos bem. Aquela anedota da árvore caindo numa floresta não emitindo barulho se ninguém a viu foi até que bem respondida por aquela tirinha: ondas sonoras existem independentemente de espectadores. Ninguém precisa olhar para um meteoro para que ele cai em uma lua ou no nosso planeta.

    Loucuras coletivas ocorrem e existem diversos momentos em que isso foi registrado documentalmente - vide crises de riso na África ou a da dança na França. Mas acho que a anedota do rei nu é mais uma prova do poder de um monarca sobre a opinião de seus súditos do que sobre sua percepção. Para terminar, ainda assim concordo contigo que culturas são modos de se enxergar a realidade e que muitas vezes elas são conflitantes. Só que da forma como você coloca parece que não existem intersecções entre elas, como se um navajo do XVII, um português do XVIII, um chinês do XIX e um brasileiro do XX só tivessem uma série de atitudes e visões díspares o suficiente para não vermos padrões comportamentais, cognitivos e perceptivos. Se assim o fosse, você está indo contra tudo o que foi produzido até hoje pela Antropologia, Arqueologia, História, Sociologia,etc. Por exemplo, sabe-se (e amplamente utilizado) até onde um grupo de humanos caçadores-coletores instalado em um local se desloca para conseguir recursos. Há uma literatura gigantesca por trás disso, ninguém tira isso da cartola. Se essa crítica é seu objetivo, ok. Só que não vai ser só relativizando que você vai ter sucesso, campeão!hehehe

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    1. Não era uma crítica a ciência. Era um pensamento sobre a humanidade. Em momento algum eu disse que não existem relações entre culturas diversas, é errado da sua parte afirmar isso a partir do que escrevi. E eu pedi para você opinar sobre esse post exatamente por conhecer onde a sua e a minha opiniões se dividem.
      Obrigado Pedro, por mostrar a possibilidade de um outro lado da moeda.

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  2. Ah, em relação à culturas e realidade, tem um arqueólogo que tem uma ideia muito boa: As sociedades não se adaptam à meio-ambientes reais, mas à ideia que fazem deles. O sucesso adaptativo está na proximidade entre a ideia e o ambiente como este de fato existe na sua totalidade.

    Agora como ele é de fato nessa totalidade eu não sei se a gente consegue conhecer. Só sei que sabemos mais hoje do que há 500 anos atrás ou mesmo há 10.

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  3. Pedro,
    discordo um pouco sobre o exemplo da árvore.
    Acho que a resposta não é tão simples. As tais ondas sonoras só existem se existem espectadores, elas mesmas foram criadas por espectadores, e só são percebidas por espectadores. Concordo que devemos ter tais paradigmas universais para a ciência funcionar.
    O problema que a própria ciência é produto de especadores, e por espectadores, digo humanos mesmo. Não adianta dizer que um animal ouve a onda sonora da árvore caindo, essa é mais uma das universalizações científicas. É preciso um nível de consciência profundo para perceber tais coisas. Outro dia eu vi uma matéria sobre um cientista que trabalhava com o Hawking dizendo que não há mais como negar que certas aves e mamíferos possuem consciência. Mas em que nível? Difícil dizer.

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